Eu a conheci muito jovem, ainda no Teatro Universitário, antes de sua caminhada pelas Europas da vida.

Ela foi para Paris estudar teatro e nos deixou uma imagem esplendorosa, a dama da madrugada, aquela perigosa mulher, suave e dominadora, aquela que a gente descobre que passou a vida esperando.

Ela foi e voltou, então eu a tive de mais perto, duas vezes, em “O Pai”, de Strindberg e em “Quebranto”, do Coelho Neto.  Ela voltou pronta para qualquer desafio, passou de Strindberg a Coelho Neto, das profundidades dessa terrível mulher que destrói o marido e o leva à loucura à desprotegida ingênua que o Josino, meu malandro, seduz e abandona.  Esses dois personagens já eram uma vitrine.  Fui para São Paulo antes dela e só voltamos a nos reencontrar no Teatro Brasileiro de Comédia, todos nós disfarçados de coreano.  Aí, a história não parou mais.  Foram três anos de TBC e juntos criamos o Grande Teatro Tupi.  Estávamos em 56, seis anos de Tupi carioca, dois anos de TV Rio.  Nunca nos abandonamos.

O Teatro dos 7 aconteceu, mas nos meus vôos solitários, lá estava eu contracenando com ela em “A Flor de Cactus”, vaudeville francês, ou naquele texto inesquecível, Bernard Shaw e Beatrice Patrick Campbele, nos amando e desamando com muita elegância.

1965, 1989, 1998.  Três vezes Shaw e Beatrice, o grande autor e sua paixão, e esse recorde único da carreira de qualquer atriz.  Nathalia foi premiada duas vezes  pelo mesmo papel: a sua Beatrice lhe valeu o Moliére de 65 e o de 89.

Sempre a mesma companheira, a mesma amiga, o mesmo carinho, aquela que vive inventando motivos para te mandar um novo presente.

A vida nunca nos separou de verdade.

No Teatro dos 4, “Assim é, se lhe parece”, de Pirandello, “Jardim das Cerejeiras”, de Chekov, “Cerimônia do adeus”, onde contracenamos outra vez em dupla memorável – Simone e Sartre – e ganhamos atrasados o prêmio de coadjuvantes.

No espaço do Delfim, ela me visitava com essa avalanche de poesia, “Paixão”, como só ela é capaz de cobrar em cena. 

E a paixão continua, no seu festejo de oitenta anos, ei-la no Festival de Angra, repetindo para a eternidade a beleza dessa voz tão pronta para se abrir em poesia, o seu mundo verdadeiro.

Nathalia, amor, carinho, só você.